domingo, 16 de maio de 2010

Primeiro veio a ansiedade. Como veio,passou.
Sentada na cama diluiu-se, e foi deitando lentamente como faz uma árvore cujas raízes cansadas insistem em segurar presa ao solo. Ali foi afundando, não havia pressa, os dias e as horas a seguiam apaixonadamente.
Afundava enquanto carregava o lençol, seguido do lençol a cama se deformava, depois veio o carpete que carregava meus pés, estáticos, medrosos mas firmes, como que sustentados por todo prazer que a expectativa dá.
Logo o lençol me envolveu. Todo o resto sumiu, o tempo nos rodeava batendo sorridente num relógio que o irritava por ter parado, foi a primeira vez que ele o fazia.
Rodeando o relógio estavam os medos sorridentes e podres, vestidos e travestidos com farrapos. Mas impotentes perante um simples carpete, que envolvido por nós, agora não convergia mais para cama, mas consumia lentamente cada pedacinho dos sujos trapos daqueles pesadelos.
A cama abandonou toda a complexidade daquilo preso a qualquer uma destas inegaveis leis.
Flutuou. O carpete tendo consumido os medos, e o tempo neurótico com seu relógio revolucionário foram sumindo, até que da cama só se podia ver um ponto.
Meu corpo, preso ao dela e o dela ao meu.
Ouvi um som gostoso.
E voltei pro mundo com ela, já sem medos.

domingo, 2 de maio de 2010

O lugar era escuro, mas não de uma escuridão assustadora, eram somente segredos escondidos entre os livros, e a música. O cheiro do quarto misturava introversão e um gosto triste e sensual pela vida.Ela deitava numa cama grande e quadrada.
Seus bracos eu não podia ver. Estavam escondidos por seu corpo bem trabalhado, não pelo exercício, mas pelo puro talento de uma natureza que certamente a favorecia. Os cabelos dormiam ao seu lado, pretos e esparramados, quase como se tristes por tocarem a cama mas não suas costas.
Sussurei seu nome.
 Na verdade chegava quase desejar não ser notado. Ficaria ali durante horas olhando cada um de seus detalhes, cada uma de suas perfeicões semi cobertas por um edredon que parecia acostumado a cobrir àquilo que a natureza certamente, caso nesta ouvesse egoísmo, esconderia dos imperfeitos olhares humanos.
Ela virou aos poucos, segura, risonha e corada, quase instantaneamente o quarto se cobriu de vinho, o edredon como que se tomasse vida me envolveu, nos segurou juntos,o vinho se expandiu rapidamente, cobriu a noite a buscou uma guitarra a qual se misturou, guitarra agitada de notas e acordes infindáveis, completos, densos.
Ouviu-se um estrondo.
Gritos de pesadelos fugindo.Uma bateria ritmada juntou se a guitarra, envolveu os corpos, nos apertou, ouviu-se gritos, o vinho, caiu a lua, os corpos, envinhou-se a guitarra, gritaram os corpos, o edredon trouxe a lua, a guitarra os corpos o cabelo o aperto os gritos os passos o ritmo os acordes... o silêncio.
E Poesia sutilmente cravada na memória.