Primeiro veio a ansiedade. Como veio,passou.
Sentada na cama diluiu-se, e foi deitando lentamente como faz uma árvore cujas raízes cansadas insistem em segurar presa ao solo. Ali foi afundando, não havia pressa, os dias e as horas a seguiam apaixonadamente.
Afundava enquanto carregava o lençol, seguido do lençol a cama se deformava, depois veio o carpete que carregava meus pés, estáticos, medrosos mas firmes, como que sustentados por todo prazer que a expectativa dá.
Logo o lençol me envolveu. Todo o resto sumiu, o tempo nos rodeava batendo sorridente num relógio que o irritava por ter parado, foi a primeira vez que ele o fazia.
Rodeando o relógio estavam os medos sorridentes e podres, vestidos e travestidos com farrapos. Mas impotentes perante um simples carpete, que envolvido por nós, agora não convergia mais para cama, mas consumia lentamente cada pedacinho dos sujos trapos daqueles pesadelos.
A cama abandonou toda a complexidade daquilo preso a qualquer uma destas inegaveis leis.
Flutuou. O carpete tendo consumido os medos, e o tempo neurótico com seu relógio revolucionário foram sumindo, até que da cama só se podia ver um ponto.
Meu corpo, preso ao dela e o dela ao meu.
Ouvi um som gostoso.
E voltei pro mundo com ela, já sem medos.
domingo, 16 de maio de 2010
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